'Eu deixei de acreditar em mim': vítima relata rotina de agressões de companheiro após engravidar

  • 24/11/2024
(Foto: Reprodução)
Em Campinas, violência física é a mais comum e as mulheres são as vítimas mais frequentes. Pesquisa aponta alta de 26% em casos de agressões contra idosos, mulheres e crianças "Eu deixei de acreditar em mim. Eu deixei de acreditar em mim como mãe, como mulher, como profissional, como tudo. Você para de se enxergar, para de se reconhecer. Você vive a verdade do agressor". O relato é de uma moradora de Campinas (SP), vítima de uma série de agressões do companheiro após engravidar. As notificações de violência na cidade cresceram 26% em 2023 e bateram um novo recorde, segundo dados divulgados pela Prefeitura de Campinas. E as mulheres adultas são a maioria das vítimas na metrópole. Ela conta que tudo mudou no relacionamento quando a gestação foi descoberta. "Era perfeito, tudo incrível. Até que eu engravidei. Descobri que eu estava grávida em setembro. Foi onde começou a mudar tudo. Primeiro foram agressões verbais, agressões psicológicas, até de fato chegar à agressão física", relata. Vítima de violência doméstica relata dificuldade para recomeço Reprodução/ EPTV Hematomas e agressões na frente dos filhos A situação foi escalonando ao longo dos meses. "Quando eu estava de sete meses, ele me agrediu muito que eu fiquei com hematomas pelo corpo todo, inclusive no olho. E com o tempo, as agressões começaram a ser na frente dos meus filhos". Depois de conseguir uma medida protetiva contra o agressor, ela revela que recomeçar também é doloroso. "Diversas vezes depois das agressões eu ouvia: 'você está satisfeita?'. Como se fosse a minha culpa. Acreditar em mim, acreditar que eu vou conseguir dói, dói muito", afirma, em meio a lágrimas. Ela destaca a importância de apoios externos para romper o ciclo de violência. "A gente fica tão envolvida naquele sentimento, naquela dependência que a gente sente, que a gente não tem muita força. Se você não tiver um bom auxílio, pessoas ao seu lado que realmente te entendam, fica impossível". Vítima de violência doméstica conta sobre reflexos psicológicos Reprodução/ EPTV 3.634 notificações em 2023 No total, foram 3.634 notificações de violência em Campinas em 2023, o maior valor da série histórica iniciada em 2009, ante 2.886 de 2022. Os dados são do Boletim Sisnov, o Sistema de Notificação de Violência em Campinas e, além de mulheres, incluem casos contra crianças, adolescentes, adultos e idosos. Apesar de admitir que ainda há um cenário de subnotificação, o município aponta no boletim três motivos que levaram ao crescimento dos casos de violência em 2023: Efetivo crescimento nos índices de violência no município; Aumento na percepção da violência, motivando um maior procura pelos serviços; Maior sensibilização dos profissionais envolvidos no atendimento às vítimas de violência. "É fundamental reconhecer que a subnotificação no Brasil, assim como em Campinas, permanece como um grande desafio. Diversos fatores, como desconfiança nas instituições, medo, culpa, dificuldades de acesso aos serviços e o não reconhecimento de determinadas formas de violência, contribuem para a existência da subnotificação", diz o boletim. Tipos de violência mais recorrentes Enfermeira responsável pelo Sisnov, Juliana Bassul aponta que a violência física, seguida por tentativa de suicídio e violência sexual são as mais recorrentes na cidade. "Com o sistema Sisnove, a gente consegue identificar quem são essas pessoas que procuram, muitas vezes, serviços de urgência e não estão inseridas na Unidade Básica de Saúde. Então, isso é um primeiro ponto. O segundo ponto é a capacitação e sensibilização dos profissionais em entenderem o que aquela pessoa está querendo dizer, e muitas vezes não é dito, porque a violência ainda é um tabu para todos nós", explica. Mais casos na região sul E a região sul da cidade tem o maior número de casos. Foram 1 mil notificações. De acordo com a prefeitura, essa região concentra áreas mais vulneráveis, exatamente onde os moradores mais dependem de ações do poder público contra a violência. "A região sul da cidade é uma das maiores regiões, em número de pessoas. Então, em comparação aos outros distritos, o distrito sul é o maior em extensão e número de serviços. Nós incluímos mais serviços em toda a Campinas, seja na assistência, na educação, na saúde. Então, tudo isso, atrelado às capacitações que a gente fez no ano de 2023, fez com que tivesse esse aumento das pessoas buscarem mais os locais de atendimento", acrescenta Juliana. VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e Região Veja mais notícias da região no g1 Campinas

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2024/11/24/eu-deixei-de-acreditar-em-mim-vitima-relata-rotina-de-agressoes-de-companheiro-apos-engravidar.ghtml


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